terça-feira, 8 de outubro de 2013

NOTA DA I UNIDADE

Prezados amigos do 3º Período de Letras:
Para atender à segunda nota da I unidade, recomendo que comentem o texto seguinte:


HUMANOS: CARNICEIROS POR EXCELÊNCIA
Genyff Kareny Gonçalo de Farias (Letras/FAMASUL)


É ao mesmo tempo que impressionante, repugnante ver como o ser humano se satisfaz com a desgraça alheia. Jabor certa vez falou que a miséria dá lucro e por isso não acaba. Quando li esse fragmento, refleti sobre como isso acontecia: o humano ganha, felicita, fatura com a miséria. Quanto mais miserável se é, mais capital de lucro se faz girar.
Ontem, tive a infelicidade de presenciar um acidente onde em um impacto brutal entre um carro e uma moto, o piloto da moto foi arremessado a alguns metros e feriu-se gravemente enquanto o motorista do carro fugia. Abaladas com a cena, eu e a minha irmã que passávamos na hora, ficamos paralisadas, atadas, sem que pudéssemos ajudá-lo, ou tirá-lo do meio da rua onde só aglomeravam-se mais e mais pessoas para contemplar sua desgraça.
Quando saímos do lugar, pude notar que, à medida que andávamos, encontrávamos mais carros, motos, pessoas, correndo, rindo, afobadas, todas indo na direção ao local do acidente. Um evento acontecia... um evento de cunho talvez político, já que havia acontecido na frente da casa do prefeito, um evento social, já que conhecidos, amigos, parentes, se reuniam para contemplar a miséria de poucas graças do infeliz acidentado. Uma festa em torno do moribundo. Saímos de lá, mas eu sabia que em pouco tempo a imprensa local também estaria para cobrir o fato. 
Mais um fato, mais uma tragédia que seria notícia por algumas horas, alguns dias e depois seria substituída por outra mais grave ou mais horrenda. E isso alimentaria a imprensa, assim como alimentaria os policiais que fingiriam estar interessados em descobrir como o acidente foi causado, alimentaria os médicos que tentariam recuperar a perna destroçada do pobre motoqueiro, alimentaria até mesmo ele, com algum beneficio do governo no porvir, caso provasse ser incapaz de, por causa do acidente, não poder desenvolver tarefas trabalhistas para sua sobrevivência.
Desgraças movem dinheiro, e as pessoas gostam de desgraças. Sobrevivem delas como aves de rapina que apenas se diferenciam das demais por poderem pensar e ficar felizes com as misérias alheias. Como psicólogos que ganham mais e mais, como médicos que faturam com uma patologia mais grave, o homem se deslumbra a cada tragédia, se engrandece por permanecer inteiro enquanto o outro se desfaz em um chão de uma rua.
Carniceiros por excelência, os homens até se orgulham de colecionar cada vez mais desgraças para contarem aos seus filhos, netos, familiares na hora do jantar, como mais uma notícia corriqueira do dia-a-dia.